‘O Estrangulador de Boston’ e o jornalismo que não existe mais

Baseado em fatos reais, ‘O Estrangulador de Boston’ é mais um exemplo de como o true crime se tornou um dos gêneros preferidos do público, principalmente dos assinantes de serviços de streaming. Além disso, a obra que estreia nessa sexta (17) no Star+ mostra como o jornalismo investigativo que outrora era regra, atualmente é praticamente exceção.

Isso porque o filme (ou melhor dizendo, a investigação) só acontece porque uma repórter do jornal Record-American, Loretta McLaughlin (Keira Knightley) percebe que existe um padrão no assassinato de três idosas que viviam em Boston (Estados Unidos) no início dos anos 1960. Todas foram violentadas, estranguladas e “decoradas” com um laço de enfeite, feito com o material usado em seus respectivos estrangulamentos.

O Estrangulador de Boston
Crédito: Divulgação/Star+

O maldito patriarcado

Mesmo com a percepção de Loretta, a investigação demora a acontecer. Tanto pela polícia, quanto pela própria redação. O principal motivo não poderia ser outro: o maldito patriarcado. A repórter, por ser mulher, a princípio só tem como opção editorias de moda ou de “teste drive” para utensílios domésticos. E para que ela seja levada a sério, somente quando o assassino age novamente, usando o mesmo padrão nas próximas vítimas.

Depois de muita luta para acreditarem em sua versão, Loretta finalmente é levada a sério e dividirá a investigação com Jean Cole (Carrie Coon), a única repórter mulher que trabalha com jornalismo investigativo. Apesar da experiência da nova colega, elas terão que enfrentar o sexismo excessivo da época, lutar contra o conformismo da polícia e colocar sua vida e de seus familiares em risco para revelarem a verdade.

O “apoio” familiar

Outro ponto interessante de O Estrangulador de Boston é mostrar como o apoio familiar a mulher que tinha emprego funcionava naquela época. O marido de Loretta, James McLaughlin (Morgan Spector), a princípio comemora com entusiasmo as primeiras conquistas da esposa no jornal. No entanto, com o aumento das responsabilidades dela no caso, o apoio se transforma em questionamento. Afinal de contas, quem cuidará dos filhos já que a mamãe está consolidando sua carreira? Por fim, se hoje, o homem ainda é visto como o responsável pelo sustento e a mulher é vista como a responsável pela criação dos filhos, imagina nos anos 1960…

Crédito: Divulgação/Star+

Jornalismo “in memorian”

Outro ponto curioso do filme é mostrar como, em suma, o jornalismo praticado em outrora não existe mais. É cada vez mais raro o caso de repórteres se dedicando durante meses ou anos para investigar um determinado caso, apurar com calma uma matéria, bem como ouvir diversas fontes para chegar a alguma conclusão. A cultura de cliques imediatos praticamente acabou com isso. A primeira informação que chega é a verdade absoluta e disseminada nas redes sociais como se tudo já tivesse esclarecido e investigado. Uma lástima.

Por fim, não são apenas essas questão que fazem de O Estrangulador de Boston um belo filme. Muito bem escrito e dirigido por Matt Ruskin, ele conta com a química perfeita entre Keira e Carrie, assim como um belo elenco de apoio e uma história envolvente que prende a atenção do espectador até o último minuto.

NOTA: 8

Trailer – O Estrangulador de Boston

Ficha técnica

Título original: Boston Strangler
Direção roteiro: Matt Ruskin
Elenco: Keira Knightley, Carrie Coon, Chris Cooper, Morgan Spector, David Dastmalchian
Duração: 113 minutos
Data de estreia: 17 de março de 2023
Onde assistir:Star+
País: Estados Unidos
Gênero: drama, suspense, thriller
Ano: 2023
Classificação: 14 anos

Fabio Martins

Santista de nascimento, flamenguista de coração e paulistano por opção. Fã de cinema, música, HQ, games e cultura pop.

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