Documentário sobre o Balão Mágico vale pela nostalgia

Pode ser que hoje poucos sabem ou entendem a importância do Balão Mágico no universo infantil. Mas quem cresceu nos anos 80 jamais se esqueceu do grupo pioneiro neste segmento formado por Mike, Tob, Jairzinho e Simony. Dividido em três episódios e disponível no Star+, ‘A Superfantástica História do Balão’ é uma série documental sobre este fenômeno pop que tinha muito potencial para ir além da nostalgia.

O trailer sugere uma espécie de lavagem de roupa suja entre os integrantes, mas o que se vê, na verdade é algo mais brando. São recordações bonitas, outras negativas, crianças que acumularam seus traumas e quando os problemas de verdade são sugeridos, logo o tema é suavizado e deixado de lado.

Balão Mágico

FITA 1: Também Quero Viajar Nesse Balão

O primeiro episódio é o mais redondo. Com imagens da época e depoimentos interessantes, como a do apresentador Raul Gil que abriu as portas para a Simony, ele conta como o grupo, de fato, foi criado. O mercado musical infantil não existia no Brasil e o então diretor da gravadora CBS, Marcos Maynard, recebeu a dica do mercado europeu que investia pesado neste segmento.

Simony e Tob

A primeira investida foi em Simony. Carismática desde pequenina e com uma voz graciosa e bem afiada, era uma aposta certa e o resultado não poderia ser outro. Ela se tornou a principal integrante do Balão Mágico e a primeira criança a fazer um sucesso estrondoso no Brasil. Logo depois vieram Tob, menino tímido, de bela voz, olhos azuis impactantes e extremamente simpático.

Mike e Jairzinho

Na sequência, o espoleta do grupo, Mike. Selecionado, por um episódio curioso. Filho do assaltante inglês Ronald Biggs, ficou conhecido por implorar em frente às câmeras pela liberdade do pai. Completando o grupo, Jairzinho, que chegou logo após o grupo formado. Filho de Jair Rodrigues, um dos grandes nomes da história da MPB, o cantor mirim herdou do pai o talento musical, o sorriso contagiante e o grande carisma. Obviamente encaixou como uma luva no Balão Mágico.

Sucesso estrondoso

Não demorou muito para o Balão Mágico se tornar um tremendo sucesso. Além da qualidade das músicas e a química entre os seus integrantes, o grupo tinha outro fator determinante. Por serem crianças, a identificação com o público infantil era perfeita. De criança para criança. Algo, até então, inédito, no país.

FITA 2: Mãe, me Dá um Dinheirinho

O sucesso permitiu que o Balão Mágico tivesse seu próprio programa na TV Globo e a possibilidade de gravar com grandes nomes da música brasileira. Djavan, Fábio Júnior, Baby Consulelo e Pepeu Gomes, além de Roberto Carlos. A partir daí que começam a aparecer o principal problema que não tinha como ser controlado pelas crianças: a ganância.

E justamente nessa parte A Superfantástica História do Balão se torna superficial demais. A arrogância e fome de sucesso de Maynard são tratadas como bom humor. A influência da mãe de Simony (Maricleuza Benelli) não recebe nenhum questionamento ou estranhamento por parte dos produtores. E olha que ela conseguiu empregar praticamente todos os seus parentes no Balão Mágico e trocar a produtora do grupo, Mônica Neves, (que era amada pelas crianças e as tratava sem explorar) pelo seu empresário de confiança, Paulo Ricardo. Eles, inclusive, chegaram a comprar shows do Balão Mágico para produzirem e ficar com o lucro da estrondosa bilheteria.

Os integrantes lembram com saudades de Mônica e começam a trazer a tona os traumas dessa nova fase, recordando que trabalhavam feitos burros de carga sendo, inclusive, obrigados a fazer mais de um show por dia. Apresentações menores, de 40 minutos cada, para dar tempo de cantarem em uma cidade no começo da tarde e outra no fim.

Claro que Maynard e os demais adultos que “gerenciavam” a carreira do grupo se eximem de qualquer mal relacionados ao excesso de trabalho das crianças. Porém, ao invés de tocar o dedo na ferida, os produtores do documentário também fizeram vista grossa.

FITA 3: Quando Fica Grande

O derradeiro episódio de A Superfantástica História do Balão vale pelos depoimentos de Simony, Mike, Tob e Jairzinho. Os quatro lembram de episódios difíceis do grupo e até um momento traumático que Tob simplesmente bloqueou em sua mente. Por ser o mais “velho” do Balão Mágico, ele foi o primeiro a passar pela transição para adolescência. Ficou bem mais alto que os demais, a voz começou a engrossar e o caminho mais “natural” era a sua saída.

E a despedida foi da pior maneira possível. Com ele conhecendo o seu substituto, que aparecia no final de cada show do grupo para avisar ao público que Tob estava se despedindo para sempre e que aquele novo garoto entraria em seu lugar. Mais constrangedor impossível.

A história de Simony e Jairzinho não tem o mesmo impacto, uma vez que ambos seguiram com suas carreiras artísticas e eram presenças constantes em programas de TV e demais veículos de comunicação. A cantora teve uma vida mais conturbada, que poderia ser mais explorada pelo documentário, mas até que não compromete tanto, uma vez que ela sempre foi muito explorada pelos programas de fofoca.

Mike, por outro lado, tem a história mais surpreendente. Principalmente pela relação dele com o pai. A maneira que Biggs apreciava a vida e como o criou. Depois ver o pai que sempre foi um bon-vivant, adoecer, ficar totalmente dependente de filho e querer voltar para a Inglaterra, ser preso e morrer em seu país natal. Pena, que mais uma vez, tudo fica na superficialidade.

Por fim, não é exagero que A Superfantástica História do Balão é uma boa produção, que pega o espectador pela nostalgia. Mas é inegável também que ele tinha material para ser melhor explorado.

Nota 6

Trailer – A Superfantástica História do Balão

Fabio Martins

Santista de nascimento, flamenguista de coração e paulistano por opção. Fã de cinema, música, HQ, games e cultura pop.

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