Não é nenhum exagero afirmar que A Família Soprano é uma das melhores produções da história da televisão. A série é um divisor de águas na história da TV norte-americana e significa para o drama o mesmo que Seinfeld significa para a comédia. A produção da HBO que completa 20 anos de estreia hoje (10 de janeiro) e terminou em 10 de junho de 2007 é um marco. Tão importante que colocou a emissora num patamar elevadíssimo e trouxe para as produções televisivas a importância e qualidade das cinematográficas. Acredite. Se hoje temos seriados maravilhosos, isso se deve aos “mafiosos de Nova Jérsei”.
Vencedora de cinco Globos de Ouro e 21 prêmios Emmy, Família Soprano devolveu à televisão americana a qualidade que ela havia perdido nos anos 50, 60 e 70 para as produções hollywoodianas. Com um elenco primoroso, roteiros brilhantes e direção impecável, a série foi um dos ícones pop da virada dos anos 90 para os 2000. Não é a toa que recebeu enxurradas de elogios dos principais veículos dos Estados Unidos, sendo tratada por adjetivos como “a maior obra prima da cultura pop da sua época” ou “a mais rica conquista da história da televisão”. A Família Soprano figura na quinta colocação dos “50 melhores shows da TV em todos os tempos” do TV Guide (colocação que eu considero injusta, pois não há nada na história da TV que chegue perto de Sopranos).
Ao lado de O Poderoso Chefão, Os Bons Companheiros, Era Uma Vez na América, Scarface, Os Intocáveis e Cassino, a série é essencial para entender o universo dos mafiosos. A história é centrada na máfia de Nova Jérsei e o fio condutor dessa saga é Anthony Soprano, que se divide entre os problemas da sua família e da sua “família”. Assim como as outras grandes produções da HBO, ela conduz o espectador a conhecer todos os lados da história, desde o glamour até a podridão, mostrando o lado humano dos personagens, suas crises e dificuldades, tratando todos com um nível de realismo impressionante.
Tony Soprano é o melhor exemplo disso. Um homem de meia-idade, que sofre de depressão e síndrome do pânico e que busca melhorar a vida através da terapia. Seus amigos não podem saber de sua ‘fragilidade’. Afinal de contas, um chefe da máfia não pode passar por esse tipo de problema e muito menos se ‘confessar’ para uma psicóloga. Desse modo, somos apresentados aos dois “Tonys”. O brutal e implacável mafioso, que não teme nada nem ninguém e o homem contemporâneo comum, fragilizado pelo peso da responsabilidade em constante crise com a esposa e filhos.
Uma das maiores preocupações de David Chase – criador da série – era glamourizar Tony Soprano, fazendo com que o mafiosos se tornasse uma espécie de herói para o espectador. Por isso, toda vez que começamos a enxergar o lado humano e termos uma certa simpatia pelo protagonista, ele apresentava a verdadeira face do mafioso: um sujeito cruel, implacável e impiedoso, que não pensava duas vezes antes de “terminar o trabalho”.
Além do cuidado com roteiro, direção e elenco, um diferencial em A Família Soprano é que a série fugia completamente da tradicional fórmula das produções televisivas da época, onde cada capítulo tinha o seu começo, meio e fim. Chase encarava a sua criação como um “filme de 13 horas”, onde os capítulos não precisavam ter um final propriamente dito ou até mesmo um gancho para o que veria a seguir. Ele desenvolvia um tema num episódio, explorava outro lado dos personagens em outro e deixava para concluir apenas no final da temporada.
A Família Soprano quebrou paradigmas até mesmo em seu último capítulo. Ao contrário do que sempre ocorreu em todas as produções televisivas da época, ela não teve um “fim” propriamente dito. O capítulo final é totalmente aberto, mas possível de interpretação, sem algo impactante. Ele simplesmente acaba. Muita gente odiou, mas ele fez história e chegou a ser homenageado em Everybody Hates Chris, que termina praticamente da mesma forma.
Se você ainda não assistiu, assista. Garanto que nada do que você vê hoje chegue aos pés de A Família Soprano. E se você já viu, veja novamente. Sopranos nunca é demais.
Conheça os Sopranos:
Anthony “Tony” Soprano (James Gandolfini): Personagem principal. No início da série é Capitão e ascende a Chefe da família em substituição ao seu tio Junior.
Carmela Soprano (Edie Falco): Mulher de Anthony Soprano. Católica apesar de aceitar a vida “pouco religiosa do marido”. Vive dividida entre o amor e o desrespeito de Tony.
Dra. Jennifer Melfi (Lorraine Bracco): Psicóloga de Anthony Soprano. Com o desenvolver da série passar a ter o seu próprio psicólogo a quem confidencia a terapia de Anthony Soprano.
Christopher Moltisanti (Michael Imperioli): Primo de Carmela Soprano, que Anthony Soprano trata como sobrinho. Sobe aos poucos na família até atingir o posto de capitão.
Silvio Dante (Steve Van Zandt): Proprietário do Bada Bing, “consegliere” e antigo membro da família. Braço direito de Anthony Soprano.
Paulie “Walnuts” Gualtieri (Tony Sirico): Capitão e antigo membro da família. Tem o respeito de Anthony Soprano por ter trabalhado com o seu pai, Johnny “Boy” Soprano.
Corrado “Junior” Soprano (Dominic Chianese): Irmão de Johnny “Boy” Soprano. Com a morte de Jackie Aprile, assume o comando da família DiMeo, que, como passa a ser chefiada por um Soprano, passa a ser conhecida como família Soprano. Após uma manobra interna foi substituído no comando pelo sobrinho, Anthony.
Meadow Soprano (Jamie-Lynn DiScala): Filha mais velha de Anthony Soprano. Não concorda com o estilo de vida do pai. Após ingressar na universidade afasta-se ainda mais do pai, mantendo apenas contato com a mãe e com o irmão.
Anthony “A.J.” Soprano Jr. (Robert Iler): Filho novo de Anthony Soprano. Um jovem completamente o oposto da irmã. Não se preocupa com o futuro, não assumindo responsabilidades. Não vê no pai o modelo ideal, mas, diferente da irmã, não se importa muito e aproveita a vida de ‘filho do chefe’.
Bobby “Bacala” Baccalieri (Steve Schirripa): Membro da família que ajudava “Junior” antes deste deixar de ser o chefe. Acaba sendo poupado por Tony porque aceita continuar cuidando do Tio Junior.
Janice Soprano (Aida Turturro): Irmã de Anthony Soprano. Sempre dramática, provoca o irmão até este perder a calma. Não tem uma fonte de renda fixa e depende da ajuda do irmão para continuar a vida.
Artie Bucco (John Ventimiglia): Antigo amigo de Anthony Soprano. Dono do restaurante Nuovo Vesuvio, onde a máfia habitualmente se reúne para jantar. Não tem qualquer ligação com os esquemas da máfia, apenas a amizade.
Adriana La Cerva (Drea de Matteo): Noiva de Christopher.
Johnny “Sack” Sacramoni (Vincent Curatola): Inicialmente capitão da família de Nova Iorque e sobe ao posto de chefe após a morte de Carmine Lupertazzi. Ganancioso, não deixa escapar qualquer possibilidade de negócio e vive em conflito com Anthony Soprano.
Salvatore “Big Pussy” Bonpensiero (Vincent Pastore): Capitão amigo de Anthony Soprano, antigo membro da família.
Furio Giunta (Federico Castelluccio): Membro da máfia italiana que após um acordo vai para a América para trabalhar para a Família Soprano.
Richie Aprile (David Proval): Irmão de Jackie Aprile. Esteve preso por vários anos e ao sair da prisão reclamar o direito de ser novamente capitão. Não concorda com a troca de chefe na família e vive desafiando o poder de Tony.
Anthony “Tony B” Blundetto (Steve Buscemi): Primo de Anthony. Esteve preso por vários anos e ao sair da prisão tenta recomeçar sua vida sem recorrer ao mundo do crime.
Livia Soprano (Nancy Marchand): Mãe de Anthony. Muito severa, não aprova nada que o filho faz. Nos seus últimos anos de vida perde a noção das coisas e passa a ser uma ameaça para o próprio filho. A Bruxa Má do Oeste é Fada do Dente perto dessa megera.
Ralph Cifaretto (Joe Pantoliano): Membro da máfia, ganancioso e oportunista. Após a morte de Jackie, envolve-se com a viúva com a intenção de subir na família. Consegue fazer apesar de Anthony não aprovar as suas atitudes.
Jackie Aprile (Michael Rispoli): Antigo chefe da família DiMeo (agora conhecida por família Soprano), adorado por todos e referenciado como o chefe perfeito que sabia conduzir os negócios com calma. Morre de câncer, deixando o lugar vago.
[…] está para a comédia, assim como A Família Soprano está para o drama. Ambos os shows revolucionaram a tv norte-americana, elevando nível de […]