Documentário da Netflix retrata a fixação e o amor de Pelé pela Copa do Mundo

Antes de mais nada, é difícil encontrar buracos na história de Pelé. O atleta do século, que já foi personagem de outro documentário – Pelé Eterno, de 2004; já teve sua revirada diversas vezes tanto na parte esportiva, quanto na pessoal. Por isso que a Netflix acerta ao recortar uma parte dessa biografia. Preferindo retratar, assim, a fixação do maior jogador de futebol de todos os tempos com a Copa do Mundo. A saber, ele disputou as Copas de 1958, 1962, 1966 e 170 sendo, inclusive, o único da história a vencer três edições dessa competição.

Foco

Produzido por Kevin Macdonald, que em 1999 dirigiu o excepcional ‘Munique, 1972: Um Dia em Setembro’, Pelé conta com dois iniciantes na direção: David Tryhorn e Ben Nicholas. A equipe acerta ao focar na obstinação do Rei sobre a Copa do Mundo. Quase não se fala sobre sua infância e do Santos Futebol Clube, por exemplo. Porém, peca ao não se aprofundar na falta de posicionamento político do jogador. Em suma, quase não é abordada a forma como lidou com as transformações políticas que o Brasil sofreu após o terrível Golpe Militar de 1964. E principalmente com o Ato Institucional n.º 5, que culminou no pior momento da ditadura brasileira.

Outro acerto da produção é mostrar, de certo modo, a fragilidade daquele que, por muitos, é visto como inquebrável e insuperável. As cenas de Pelé se locomovendo com um andador ou cadeira de rodas são impactantes. Assim como as imagens resgatadas da época em que o Rei do Futebol questionava sobre a sua própria capacidade, após ter saído (embora ter vencido) da copa de 1962 por contusão e pela rápida eliminação da Copa de 1966. Mesmo tendo uma brilhante carreia no Santos, Pelé se sentia, de certo modo, fragilizado, por causa dos desempenhos pífios nessas edições da competição e questionava se ainda teria condições de disputar a Copa de 1970, mesmo tendo apenas 29 anos.

Pelé e a Copa do Mundo

A obstinação do Rei pela Copa do Mundo começa na infância. Principalmente na frustração da Copa do Mundo de 1950, quando o Brasil perdeu a final para o Uruguai, no Maracanã. A derrota que abateu o país, é o grande motivo da expressão “complexo de vira-latas”, criada por Nélson Rodrigues pela incapacidade de nos impormos diante outras nações. A história começa a mudar na Copa de 1958 quando Pelé, com apenas 17 anos, destruía a anfitriã Suécia e conquistava o seu primeiro mundial.

Em 1962 o Brasil repetiria a façanha, porém, sem a sua Majestade. Após dois jogos apanhando dos seus adversários, Pelé se contunde e acaba cortado da Copa do Chile. Amarildo o substitui e, ao lado de Garrincha, ajuda a Seleção a vencer o campeonato. Quatro anos depois, na Inglaterra, a frustração do Rei é ainda maior. O fraquíssimo desempenho da Seleção culmina na precoce eliminação do torneio após dois jogos. O complexo de vira-latas volta com tudo, o Brasil e Pelé parece que perdem o encanto e paia uma dúvida se ele voltaria para jogar a Copa do Mundo do México, em 1970. O fim dessa história, todos nós sabemos.

Pelé e a política

Ao mesmo tempo que era um gênio no mundo do futebol, Pelé era um alienado fora dele. Pouco se importava com questões raciais, bem como políticas. O status de superstar adquirido graças a sua genialidade impediu que assumisse uma posição seja contrária ou favorável ao que acontecia na época. A sua postura de isenção é alvo de crítica duras; como a do companheiro de seleção Paulo Cézar Caju, que o classifica no documentário como “negro obediente”; assim como de críticas leves, como a dos jornalistas Paulo César Vasconcellos e José Trajano e uma tremenda passada de pano de Juca Kfouri, ao comparar, na esfera política, Pelé com o boxeador Muhhamed Ali.

Em suma, o jornalista elogia o comportamento de Muhammad Ali pela sua recusa de lutar na Guerra do Vietnã, mas acredita que tal comportamento não seria possível no Brasil tomado pelos militares, por causa das torturas, assassinatos e ocultação de cadáveres cometidos no período. Opinião que, de certa forma, soa como absurda, pois mesmo no período mais severo da ditadura, quem seria capaz de torturar, matar ou ocultar o corpo do maior de todos os tempos? A comparação mais adequada nessa esfera política não seria com Muhammad Ali, mas sim com Michael Jordan. Outro que é, a saber, o maior atleta da história do seu esporte, porém sempre foi um alienado na política.

O Rei Pelé

Por fim, apesar da isenção política, os únicos que tentavam associar Pelé aos governantes da época eram apenas os próprios militares. A falta de um posicionamento nunca significou que ele defendia ou acreditava naquilo que a ditadura pregava. Ele, em suma, se tornou algo maior, era o símbolo de um vencedor, uma imagem extremamente popular que estava acima da política e que representava o Brasil como ninguém. Ele era a personificação de um país sonhado tanto pelos militares, quanto por aqueles que lutavam contra o regime autoritário. Algo que, em outras palavras, somente o Rei conseguiria fazer.

Ficha Técnica

Título original: Pelé
Direção: Ben Nicholas, David Tryhorn
Onde assistir: Netflix
Data de estreia: 23 de fevereiro de 2021
País: Brasil
Gênero: documentário
Ano de produção: 2021
Duração: 108 minutos
Indicação etária: 12 anos

Fabio Martins

Santista de nascimento, flamenguista de coração e paulistano por opção. Fã de cinema, música, HQ, games e cultura pop.

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One thought on “Documentário da Netflix retrata a fixação e o amor de Pelé pela Copa do Mundo

  1. O Boticário é a primeira marca brasileira de cosméticos no Avakin Life | Dimensão Geek 24/02/21 at 11:21

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