‘Os 7 de Chicago’ é um grito por verdade e justiça

Niko Tavernise/Netflix

Antes de mais nada, historiadores costumam dizer que vivemos ciclos intermináveis, que se repetem de tempos em tempos e cada vez ficam mais curtos. Basta ver o momento autoritário, intolerante, ignorante, bem como cercado de mentiras que muitos países vivem, inclusive o Brasil. É justamente nessa ferida que, a saber, ‘Os 7 de Chicago’, em cartaz na Netflix, mete o dedo.

A história de Os 7 de Chicago é baseada em um caso real e completamente absurda. Tanto para a época em que ela é retratada quanto para os dias atuais. E o mais absurdo ainda é que esse tipo de julgamento parcial, político, mentiroso, bem como irracional é cada vez mais frequente em países que sob uma fina capa democrática, exerce cada vez mais autoritarismo. A saber, com o apoio de grande parte da sociedade.

Os 7 de Chicago

O filme se passa em 1968, durante a Guerra do Vietnã. Os Estados Unidos vivem um dilema interno. O governo, antes de mais nada, destinando mais dinheiro para financiar essa batalha, além de mandar mais garotos para combater o ‘inimigo comunista’. E do outro lado, democratas querendo o fim da guerra e a volta dos soldados são e salvos para casa.

Assim, alguns líderes estudantis e civis, aproveitaram a Convenção Democrata que aconteceria em Chicago no período para, dessa forma, pressionar o líder do partido a se comprometer a acabar com a guerra, caso fosse eleito. A polícia recebeu os manifestantes com extrema violência e os cabeças acabaram presos. Ou seja, nada diferente do que vemos atualmente.

Dessa forma, Os 7 de Chigaco Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen), Jerry Rubin (Jeremy Strong), David Dellinger (John Carroll Lynch), Tom Hayden (Eddie Redmayne), Rennie Davis (Alex Sharp), John Froines (Danny Flaherty) e Lee Weiner (Noah Robbins) terminaram por conspiração e incitação ao tumulto e à violência. Além disso, temos Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II) que acaba julgado por demais, por ser líder dos Panteras Negras, embora não tenha participado dos protestos. Ou seja, pode adicionar racismo neste caso surreal.

Niko Tavernise/Netflix

Filme de Tribunal

O filme segue os passos tradicionais de um filme de tribunal com o embate entre promotoria e defesa, mediados por um juiz. Apesar de usar uma fórmula tradicional, isso não abala a produção em nenhum momento. Principalmente pelos fatores externos: trata-se de um julgamento político, parcial, bem como arbitrário. Além disso, deixado nas mãos do juiz Julius Hoffman (Frank Langella), modelo típico de autoridade repugnante e racista que está lá para cumprir as ordens do presidente. Ou seja, um jogo de cartas marcadas.

Elenco espetacular

A grande força de Os 7 de Chicago é o seu elenco, recheado de atores talentosos, premiadas e surpreendentes. Começando por Langella, que é espetacular como o deplorável juiz Hoffman. Soma-se a ele Mark Rylance, vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Ponte dos Espiões (Bridge of Spies, 2015), que está perfeito como o advogado de defesa William Kunstler.

Dos réus, impossível não destacar Sacha Baron Cohen (que é muito mais do que simplesmente o hilariante Borat). Bem como Redmayne, vencedor do Oscar de Melhor Ator por A Teoria de Tudo (The Theory of Everything, 2014). Além dos vencedores do Emmy deste ano Strong (Melhor Ator em Drama) e Abdul-Mateen II (Melhor Ator Coadjuvante em Minissérie ou Filme).

Niko Tavernise/Netflix

Aaron Sorkin

Embora Os 7 de Chicago seja apenas o seu segundo filme onde ele cuida da direção e roteiro, Sorkin é um cineasta experiente. Principalmente como roteirista. Ainda mais de filmes de tribunais.

Em sua vasta filmografia, ele é o responsável de roteiros de produções como Steve Jobs (2015), O Homem Que Mudou o Jogo (Moneyball, 2011), bem como a série The Newsroom (2012 a 2014). Além dos filmes de tribunal A Rede Social (The Social Network, 2010) e Questão de Honra (A Few Good Men, 1992).

Em Os 7 de Chicago ele realiza um ótimo trabalho tanto na direção, quanto no roteiro, sendo capaz de extrair o melhor desse elenco estrelado e não ser engolido por um ou outro ator de peso desta produção. Não é fácil lidar com nomes consolidados, veteranos e jovens em ascensão ao mesmo tempo. Aqui ele domina a cena muito bem, dando espaço para todos brilharem em seu momento e não deixar ninguém tomar o espaço do outro.

Niko Tavernise/Netflix

Veredito

Um dos melhores filmes do ano e, principalmente da Netflix, Os 7 de Chicago é um soco no estômago. Prende a atenção do espectador do primeiro ao último minuto. Diverte, emociona, revolta e traz novamente para o espectador uma sensação que cada vez mais dá a impressão que está acabando: a de justiça. Por fim, o filme é simplesmente imperdível e seríssimo candidato ao Oscar 2021.

Ficha técnica

Título original: The Trial of The Chicago 7
Direção e roteiro: Aaron Sorkin
Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Frank Langella, Eddie Redmayne, Alex Sharpe, Sasha Baron-Cohen, Jeremy Strong, John Carrol Lynch. Yahya Abdul-Mateen II, Mark Rylance
Estreia: 16 de outubro de 2020
País: Estados Unidos
Idioma: Inglês
Gênero: drama
Ano de produção: 2020
Duração: 130 minutos
Indicação etária: 16 anos
Onde assistir? Netflix

Fabio Martins

Santista de nascimento, flamenguista de coração e paulistano por opção. Fã de cinema, música, HQ, games e cultura pop.

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One thought on “‘Os 7 de Chicago’ é um grito por verdade e justiça

  1. Netflix imprime mais 50 mil unidades do 'Almanaque Tudum' | Dimensão Geek 20/10/20 at 19:26

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