Cruella não se arrisca no roteiro e mesmo assim entrega um filme deslumbrante

Antes de mais nada, o filme Cruella com certeza era uma das estreias mais esperadas da Disney em 2021. A cada teaser que o estúdio lançava em foto ou vídeo, já estava levando o hype do público nas alturas. Mas será que esse fervor causado pelo material promocional do longa foi realmente justificado nas suas duas horas de duração?

A resposta bate muito mais para um lado bem positivo do que negativo. Isso porque Cruella consegue prender o espectador e entregar uma história original muito divertida, que ganha notas altíssimas pela sua estética visual. A Disney acertou em deixar de lado a receitinha de bondade que havia sido feita em Malévola, cuja personagem tivera sua descaracterização como má para se tornar mocinha na própria história; e finalmente bancou manter Cruella com seu ar vilanesco do início ao fim.

Não tão cruel assim

Cruella

No entanto, o filme não se joga de cabeça na perversidade sem limites com que a personagem era pintada na história de 101 Dálmatas. Em suma, na animação, ela era uma estilista abominável que fomentava a utilização de peles dentro do mercado de moda; buscando sacrificar até mesmo filhotes de cachorros para criar os casacos de sua grife. 

Em seu longa solo, Cruella não nega sua maldade e instinto egoísta. Ela usa quem estiver próximo para conseguir o que quer. Mas, em outras palavras, apesar de se considerar uma psicopata, ela não entrega planos tão diabólicos a ponto de vir a cometer algum assassinato. Nem mesmo contra animais – muito pelo contrário, ela acaba até se dando muito bem com os cachorros no decorrer da trama. 

Mas isso é compreensível pela intenção da Disney em captar espectadores diversos e aumentar seu alcance. Se o enredo fosse extremamente violento, apresentando uma protagonista disposta a cometer crimes hediondos, o público infantojuvenil seria vetado de consumir a atração e, assim, o lucro do estúdio cairia bastante.

O enredo do longa

Cruella

Cruella se passa nos anos 70, que ficou muito bem contextualizado em se tratando de figurinos e caracterizações como um todo. Em suma, o filme acompanha Stella (Emma Stone), uma jovem enfezada que desde pequena se sente diferente e deslocada socialmente. Após perder sua mãe, a menina fica sozinha no mundo e acaba se tornando uma vigarista para sobreviver na cidade de Londres. 

Ainda em meio a trambiques durante sua juventude, Stella consegue uma oportunidade de trabalhar para a Baronesa (Emma Thompson), uma grande estilista, e, assim, começa a trilhar seu sonho de se tornar uma designer de moda também. Porém, aos poucos ela descobre que a profissional que tanto idolatra tem segredos odiosos que interferiram inclusive no curso de sua própria sua vida; além de tomar crédito por todas as criações da garota, como se fosse a única responsável pelos designs, quando na verdade é somente a financiadora das coleções de moda de sua grife.

Com raiva pelo quanto a Baronesa prejudicou o seu passado e insiste em bloquear seu crescimento profissional, Stella resolve deixar de lado sua personalidade comedida, assumindo o alterego de Cruella, para planejar um vingança maligna contra a estilista.

Desempenho em tela

O elenco do filme está de parabéns. Emma Thompson (foto acima), que é uma grande camaleoa do cinema, personifica uma antagonista realmente desagradável na pele da Baronesa, fazendo com que você consiga odiá-la durante todo seu tempo de tela. Joel Fry e Paul Walter Hauser, intérpretes dos capangas Jasper e Horace, são extremamente carismáticos e adoráveis, facilmente conseguimos criar uma empatia por seus personagens. 

Emma Stone como a própria Cruella, dá um show de atuação. Você se pega torcendo pelo triunfo da personagem mesmo que deseje um filme sobre uma vilã. E, ao mesmo tempo que cativa, Stone também consegue fazer com que você questione as decisões que Cruella toma e passe a criticar o comportamento da personagem para com aqueles que são afeiçoados a ela. Um dos pontos altos é o monólogo que ela faz ao conversar com sua falecida mãe, no qual embarca de vez no âmago de sua personalidade doentia e abraça de vez a escuridão que tem dentro de si.

Figurinos mais que especiais

Esse é um filme que não tem como deixar de fora de sua análise os fatores visuais que contribuem para que ele seja tão original e interessante. A figurinista Jenny Beavan é uma das maiores responsáveis pelo fascínio que Cruella desperta no espectador. Além de ter vivido no período dos anos 70 e poder transportar a época com requinte nas filmagens, ela levou em consideração o filme 101 Dálmatas de 1996, no qual a atriz Glen Close encarnava Cruella na sua fase madura, e criou vestes que ela imaginou para a jovem que viria a se tornar aquela vilã interpretada por ela.

Inspiração no Punk Rock

Há muita referência na revolução do punk, que era tida vista como vandalismo pela sociedade na época em que o longa se passa, bem como as intervenções de moda de Cruella são apontadas nas manchetes de jornais e revistas do filme (que inclusive são montagens e transições que funcionam muito bem em tela). 

Não tem como não perceber uma fortíssima inspiração em Vivienne Westwood, designer que, a saber, é considerada a criadora do estilo punk. Inclusive, Cruella organiza um desfile que apresenta vestuários bem irreverentes, que se mesclam com penteados que remetem à Maria Antonieta no tempo do rococó, muito semelhante ao que Westwood apresentou sua coleção de primavera-verão na Semana da Moda de Paris em 2010.

Além dos figurinos, as aparições artísticas de Cruella são de encher os olhos, a criatividade com que ela se divulga consegue se superar a cada cena. Por fim, o ápice é o grande desfecho de transformar seu desfile de moda praticamente em um fabuloso show de rock, que está sendo comparado pelos internautas com uma apresentação da cantora Beyoncé no festival Coachella em 2018, no qual ela também manuseia uma bengala, assim como a protagonista.

Trailer – Cruella

Ficha técnica – Filme Cruella

Título original: Cruella
Direção: Craig Gillespie
Roteiro: Dana Fox, Tony McNamara
Elenco: Emma Stone, Emma Thompson, Joel Fry, Paul Walter Hauser, Emily Beecham, Mark Strong
Data de estreia: 27 de maio de 2021
País: Estados Unidos
Gênero: comédia, aventura
Ano de produção: 2021
Duração: 137 minutos
Classificação: 14 anos
Onde assistir: cinemas e Disney+

Luna Rocha

Redatora e podcaster, interessada por arte e cultura pop em suas mais diversas áreas. Curte adaptações literárias para o cinema, animes e cosplay.

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