Depois de “The Other Side”, 14.º episódio da sétima temporada de The Walking Dead, podemos afirmar sem medo que a série é disparada a melhor na arte de andar em círculos e desperdiçar excelentes vilões e personagens interessantes graças a um roteiro pobre, sem graça e insosso. Pena que a produção está ignorando os avanços conquistados pela HQ, pois se seguisse com um pouco mais fidelidade do material original, tinha tudo para criar um ótimo produto para a TV.
Tudo bem que os quadrinhos também insistem no estilo “vilão da temporada”, mas pelo menos ali eles sabem aproveitar os vilões, os arcos narrativos e fazem a história evoluir. Já a série vai pelo caminho inverso. Se arrasta em algumas tramas bobas (o que são aquele grupo de mulheres e aquela turma gótica do ferro velho???), insiste em personagens insignificantes – Tara (Alanna Masterson), Rosita (Christian Serratos), Sasha (Sonequa Martin-Green), Enid (Katelyn Nacon), Morgan (Lennie James), padre Gabriel (Seth Gilliam) e Eugene (Josh McDermitt), só para ficarmos nos exemplos ainda vivos – e deixa de lado nomes que poderiam ir além na trama – Jesus (Tom Payne) e Ezekiel(Khary Payton), entre outros – sem nenhum motivo aparente, pois acredito que nem os mais fãs mais ardorosos de The Walking Dead suporta esses tipos dispensáveis.
A falta de ação em The Walking Dead não seria um incômodo tão forte caso a história evoluísse e caminhasse para algum lugar ao invés de não sair do lugar. Há anos os produtores focam no drama de um determinado personagem ao invés de se preocupar no todo e no andamento da trama. Quer algo mais irritante do que aquele “morreu ou não morreu” com o Glenn (Steven Yeun) na temporada passada? Ou mesmo essa nova filosofia paz e amor de Morgan que se recusa a matar seus inimigos? Filosofia que, aliás, não foi abalada quando dois dos seus amigos morreram nas mãos de Negan (Jeffrey Dean Morgan), mas que sumiu rapidinho após a morte do seu novo pupilo que ele mal conhecia…
Mas se tem algo que a série The Walking Dead consegue estragar como ninguém é com vilão. A adaptação do Governador da HQ para a TV foi triste. Pegaram um personagem cruel, que deixou marcas terríveis em personagens principais – estupro da Michonne (Danai Gurira) e a amputação da mão direita de Rick (Andrew Lincoln) – e o transformaram num boçal insuportável, com um romance medonho com a Andrea (Laurie Holden, outra personagem que foi muito melhor aproveitada nos quadrinhos) e que teve uma despedida insignificante. O resultado é que ninguém mais lembra do Governador…
Mas o pior é o que andam fazendo com Negan. Esqueça o personagem carismático da HQ, sanguinário, canalha, debochado e cheio de tiradas sacanas. O Negan da TV é um babaca. Só. Não tem 10% do carisma da versão dos quadrinhos que, apesar de ser um psicopata, pelo menos é divertido e sarcástico. Sobre o futuro do personagem, realmente realmente não dá para imaginar o que esperar do vilão. Se na HQ ele desenvolve até hoje um papel fundamental na nova sociedade formada, principalmente na relação com Rick, na TV ele é simplesmente dispensável.
Claro que tudo isso será resolvido da maneira mais tosca possível. Com dois episódios repletos de ação incessante, onde Rick e sua turma irão matar praticamente todos os Salvadores e resolver suas diferenças com Negan. Para o bem do personagem, seria melhor que ele morresse. É melhor do que continuar sofrendo nas mãos desses roteiristas preguiçosos.