Se você já assistiu a “O Lobo de Wallstreet” sabe bem que misturar doses cavalares de sexo e mercado financeiro em uma mesma trama funciona bem. Tal qual o filme com Leonardo DiCaprio, Os Nomes, HQ publicada no Brasil pela Panini, usa os mesmos elementos para conduzir uma história policial bem ao estilo do selo Vertigo, a linha adulta da DC Comics.
O gibi, escrito por Peter Milligan e com arte de Leandro Fernandez, começa com o suicídio de Kevin Walker, um proeminente homem de negócios, forçado a pular da janela de seu escritório por um misterioso homem conhecido apenas como O Cirurgião. Walker deixa sua jovem esposa, Katya, e o filho Philip, um adolescente de 16 anos com um peculiar talento para cálculos e códigos e um leve grau de autismo, fruto de seu primeiro casamento.
Surpreendida pela perda do marido, Katya se recusa a aceitar o suicídio. E suas suspeitas logo se confirmam ao receber um celular com uma mensagem de vídeo gravada, na qual o próprio Kevin diz ter sido vítima de uma armação ligada a uma misteriosa organização chamada Os Nomes, que se dedica a controlar o mundo por meio dos negócios na obscuridade.
Tomada por um desejo de vingança, Katya resolve colocar à prova seu talento em lutas e todo o treinamento em artes marciais que recebeu nos últimos anos para descobrir quem são Os Nomes e acabar com o mandante da morte de seu marido. Para isso, ela será obrigada a trabalhar com Philip, com o qual nunca teve um bom relacionamento, e decifrar as pistas escondidas na última mensagem de Kevin.
Mistura de ideias
Os Nomes traz uma história com diversos elementos e acaba sendo um pouco confusa por isso. Nada contra cenas picantes e o selo Vertigo existe – pelo menos até o fim de 2019 – justamente para dar vazão a esse tipo de conteúdo. E, vale dizer, já o fez brilhantemente em outras obras, como Sala Imaculada e Lua do Lobo. Mas, em Os Nomes, a nudez de Katya Walker acaba ficando sem propósito na trama. Não fosse pelo casal Mercedes Guzman e Stoker, a parte do sexo do gibi seria totalmente gratuita, aliás. O mesmo para a estranha obsessão de Philip por ela, que chega a irritar um pouco o leitor em certo ponto.
Outro ponto no qual a HQ se perde é na presença dos “Laços Sombrios”, estranhas entidades que transcenderam os domínios digitais para possuir seres de carne e osso e podem levar tempo para serem compreendidos em uma primeira leitura. Tudo isso com a dupla de protagonistas ainda tendo que sobreviver à gangue de psicopatas do Cirurgião.
Katya também merecia ser melhor trabalhada enquanto personagem. Há questões importantes abordadas ali, como o racismo, pelo fato dela ser negra e o machismo, por ser bem mais jovem do que Kevin e ser tida como interesseira a todo momento até por Philip.
Mas, as situações revelam uma personagem instável, que oscila entre a segurança de quem sabe o que está fazendo e alguém irracional em fúria cega com certa frequência. Às vezes na mesma página até. E por mais que o roteiro se esforce para mostrar isso como recurso para humanizar a personagem, o resultado é previsível e acaba tirando um pouco da graça da HQ para quem esperava uma personagem feminina realmente forte, ainda que objetificada.
No final, Os Nomes entrega boas reviravoltas, bastante ação e algumas surpresas, enquanto enriquece o vocabulário do leitor com termos usados nas bolsas de valores. Mas, abre mão de um roteiro memorável por juntar boas ideias, mas que não funcionam bem juntas, o que pode agradar aos fãs dos filmes policiais dos anos 1990, daqueles mais desencanados e com mulher pelada sem muitos motivos para isso.
Ficha Técnica:
Título: Os Nomes
Editora: Panini
Autores: Peter Milligan (roteiro), Leandro Fernandez (arte), Cris Peter (cores)
Capa: cartonada
Lombada: quadrada
Páginas: 208
Formato: 26 x 17 cm
Lançamento: março / 2019