Assim como aconteceu com o adolescente perverso Alex DeLarge no último capítulo da versão original de Laranja Mecânica – Ignorado por Kubrick em sua versão cinematográfica porque o diretor leu a edição americana do livro, sem o tal epílogo –, em The Bends, o revoltadinho Radiohead resolveu crescer. Simples assim. O chororô de um deslocado grunge britânico de Pablo Honey deu lugar a um trabalho mais complexo em texturas e temas que pavimentou o caminho da banda de Oxford rumo sua identidade.
O disco lançado no dia 13 de março de 1995 é, sem dúvida, um dos melhores álbuns de singles dos anos 1990. É bem verdade que pedradas certeiras como ‘High and Dry’, ‘Fake Plastic Trees’, ‘Nice Dream’, ‘Planet Telex’ e ‘The Bends’ não alcançaram o sucesso estrondoso de ‘Creep’ (do disco de estreia), mas a lista consistente de hits apresentados por Thom Yorke, Jonny Greenwood, Ed O’Brien, Colin Greenwood e Phil Selway reinventou o rock de arena, levando densidade às massas.
Depois de The Bends, o Radiohead entrou em uma viagem de discos conceituais cada vez mais soturnos e foi passando, de trabalho em trabalho, de um jovem aberto a novas experiências para um adulto cheio de neuroses. Mas o álbum de 95 foi a base da pirâmide, construída com grandes blocos sólidos da angústia em meio a euforia – que depois mostrou-se vazia como um pastel de queijo – da terceira via de Tony Blair, que anunciava a volta do império britânico ao topo do mundo embalado pelo britpop. “Faith, you’re driving me away/ You do it everyday/ You don’t mean it/ But it hurts like hell”, cantava Yorke em My Iron Lung.
E lá se vão 20 anos do lançamento de um disco que parece exatamente um jovem de 20 anos, que questiona a ordem, que busca novas sensações, que quer deixar a sua marca, e mais importe: mostrando a sua cara. Com The Bends, o Radiohead achou o seu caminho e seu som, algo que muitas bandas procuraram por décadas sem encontrar.