O Despertar de Cthulhu é desespero em tons de verde

Meu primeiro contato com O Despertar de Cthulhu em Quadrinhos foi no ano passado, quando a publicação ganhou o troféu HQ Mix, o prêmio mais respeitado da indústria nacional. Lembro que achei o tema e a arte interessantes e ela acabou entrando naquela lista quase infindável de HQs para procurar depois, quando tivesse tempo – e dinheiro. O meu segundo contato foi perambulando por uma livraria aqui de São Paulo (SP). Confesso que na hora que vi o encadernado nem fiz a ligação com a obra premiada que já tinha ouvido falar, mas isso não impediu que ele estivesse em minhas mãos e eu a caminho do caixa em um piscar de olhos só de ler a sinopse e ver a arte da capa.

Pudera, o trabalho da Editora Draco é impecável, da escolha do papel couché para as páginas até a capa e contracapa cartonadas com um belo verniz que valoriza a arte de João Pirolla. Outra bola dentro da publicação são as orelhas explicativas – boas para marcar a página – presentes na maioria dos álbuns de luxo com informações dos autores e da obra em si. Só seria ainda mais interessante se não repetissem os mesmos textos encontrados na contracapa do livro.

O Despertar de Cthulhu em Quadrinhos é uma antologia de 8 HQs, todas nacionais, organizadas por Raphael Fernandes. Sem ligações entre si enquanto narrativa, as histórias têm como fio condutor a angústia, a loucura e o desespero vindos das ligações entre pessoas comuns e criaturas malignas vindas de planos sobrenaturais, como acontece na obra do escritor norte-americano H.P. Lovecraft.

Em histórias relativamente curtas, que parecem nunca terminar de fato, os autores Dudu Torres, Antonio Tadeu, LuCas Chewie, Airton Marinho, Fabrício Bohrer, Caiuã Araújo, Márcio de Castro, Lucas Pereira, Samuel Bono, Jun Sugiyama, Daniel Bretas, Hilton P. Rocha, Bárbara Garcia e Elias Aquino abordam temas diversos como fanatismo religioso e até personagens históricos em contos com a presença constante de criaturas disformes.

Temos um vislumbre de Cthulhu, o homem/polvo/dragão que dá nome ao encadernado? Sim e não. Tudo gira em torno dele, mas os roteiros, casados com belas ilustrações, são muito mais inteligentes do que uma mera HQ de terror com uma criatura maléfica assustando as pessoas como em um filme B. E o melhor de tudo: personagens com nomes brasileiros, que poderiam ser seu vizinho, um parente ou você mesmo que está lendo. Um elemento chave para provar que o terror pode não ter forma, mas tem cor: preto, branco e verde. E que o quadrinho brasileiro pulsa cada vez mais forte!

Ficha Técnica:

Título: O Despertar de Cthulhu em Quadrinhos
Editora: Draco
Autores: Dudu Torres, Antonio Tadeu, LuCas Chewie, Airton Marinho, Fabrício Bohrer, Caiuã Araújo, Márcio de Castro, Lucas Pereira, Samuel Bono, Jun Sugiyama, Daniel Bretas, Hilton P. Rocha, Bárbara Garcia e Elias Aquino
Capa: cartonada
Lombada: quadrada
Papel: couché
Páginas: 168
Formato: 17,4 x 24 cm
Lançamento: agosto /2016

Carlos Bazela

Jornalista e leitor compulsivo, gosta de cerveja, café e chá preto não necessariamente nessa ordem. Fã de boas histórias, principalmente daquelas contadas por meio de desenhos e balões.

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One thought on “O Despertar de Cthulhu é desespero em tons de verde

  1. O Rei Amarelo reúne várias faces da loucura em HQ nacional | Dimensão Geek 30/10/19 at 01:19

    […] fórmula semelhante ao Despertar de Cthulhu em Quadrinhos, o qual já falamos aqui na DG, O Rei Amarelo mescla diferentes locais e linhas temporais nos contos. Há histórias que se passam […]

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