Zenith mostra odisseia nada heroica de um super-herói

Capa do volume 1 de Zenith publicado no Brasil pela Mythos

Imagine um mundo onde os super-heróis não só existem como foram criados como armas durante a Segunda Guerra Mundial. Agora imagine que eles viraram febre, mas desapareceram durante a década de 1960 e, 20 anos depois, o único deles em atividade prefere usar sua popularidade em uma carreira de astro do rock. Essa é a história principal de Zenith, HQ escrita por Grant Morrison e ilustrada por Steve Yeowell nos anos 1980, que a Mythos traz aqui em dois volumes reunidos em uma caixa especial.

Em Zenith, temos um protagonista que nada parece os supers convencionais e por isso ela é tão interessante. Egoísta, mimado e despreparado, o personagem se vê em apuros quando um supersoldado nazista ressurge e coloca em risco não só a Inglaterra, onde ele vive, mas todo o planeta. E cabe a ele deter o vilão sem nenhum tipo de experiência em combate e nem mesmo se importando tanto assim com o resto do mundo.

Com boa parte das ilustrações em preto e branco e a história dividida em capítulos curtos, Zenith pode cativar até mesmo quem não tem intimidade com os gibis pelo estilo literário. Principalmente os fãs de cultura pop oitentista e os entusiastas de história. Afinal, os resquícios do mundo pós-guerra, incluindo a rivalidade velada entre ingleses e norte-americanos segue bem clara no roteiro de Morrison, assim como outras nuances do mundo na época.

Nada é o que parece

Outro ponto favorável de Zenith é o quanto a história muda de uma hora pra outra. Se em um momento temos um soldado nazista superpoderoso ameaçando Londres, no outro temos uma viagem a uma terra paralela onde os dinossauros ainda não foram extintos. Tudo isso de forma bem amarrada pelo escritor, que joga elementos para explorá-los mais adiante, como um seriado que deixa o espectador em suspense até o meio da temporada.

Mesmo com arcos relativamente curtos – feitos assim por conta da publicação original seriada –, o gibi traz uma trama maior que pode até parecer repetitiva ao leitor em certas passagens. Mas, o resultado final consegue surpreender e muito. Ainda que uma ou outra história pareça menos interessante, os finais de cada fase são eletrizantes e podem ser um respiro na leitura para quem ainda não tem o hábito de ler gibis e normalmente usa os fins de capítulo dos livros para dar uma pausa.

A HQ também aborda alienação cultural e flerta com gêneros de ficção científica, com a presença de robôs e apresenta personagens muito bem construídos, como em livros de terror e espionagem. Desde os Lloigor como vilões realmente apavorantes até os heróis coadjuvantes, as personalidades de todo mundo no universo do herói roqueiro são tão complexas que até ele próprio fica secundário muitas vezes.

Escrita como resposta a outra grande obra dos quadrinhos, Watchmen, Zenith parte do mesmo contexto de heróis no mundo real, mas entrega um resultado totalmente diferente interessante, usando contextos históricos e uma arte singular para compor uma narrativa densa e vibrante onde nada é o que parece. Não é à toa que esse trabalho lançou Grant Morrison no rol dos grandes autores de HQ de todos os tempos.

Ficha Técnica:
Título: Zenith
Editora: Mythos;
Autores: Grant Morrison (roteiro), Steve Yeowell (arte);
Lombada: quadrada;
Capa: dura;
Páginas: 240, em média;
Formato: 26,4 x 19,2 cm;
Lançamento: maio/2017(volume 1), junho/2017 (volume 2).

Carlos Bazela

Jornalista e leitor compulsivo, gosta de cerveja, café e chá preto não necessariamente nessa ordem. Fã de boas histórias, principalmente daquelas contadas por meio de desenhos e balões.

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