Os Órfãos se perde em sua própria narrativa

Adaptações de obras literárias para as telonas é algo comum em que na maioria das vezes dá certo, as vezes por ser completamente fiel a obra ou por ser ousado e inovador. No caso de Os Órfãos (2020), uma adaptação da A Volta do Parafuso de Henry James ele fica naquela corda bamba que é difícil de engolir…ou entender.

Começamos acompanhando a história de Kate (Mackenzie Davis) uma mulher com problemas com a mãe, com a necessidade de mudar de vida, e que consegue um emprego integral como governanta da Mansão Bly. Lá ela exercerá a função de lecionar para duas crianças órfãs, a ingênua Flora (Brooklyn Prince) e seu irmão (Finn Wolfhard). Logo que Kate chega na casa, acontecimentos estranhos e sobrenaturais começam a assombrar e começamos a ficar curiosos para saber se é real ou não. A narrativa pode parecer familiar já que Os Inocentes (1961), Através da Sombra (2016) e Os Outros (2001), têm elementos da obra de James, mas ao contrário desses grandes longas, Os Órfãos não consegue se sustentar em sua própria história.

O elenco faz o possível para não expressar a fraqueza do texto, pode ser até dito que é muito talento desperdiçado. Mackenzie Davis faz seu papel de governanta, ela tem o necessário e consegue sugar ao máximo para interpretar uma pessoa empática no meio de tanta confusão. Brooklyn Prince é o grande destaque, a atriz mirim parece muito confortável e se mostra uma grande revelação, já Finn Wolfhard poderia ter tido grande desenvolvimento, já que o garoto tem um histórico de masculinidade tóxica, mas foi completamente descartado e seu papel só ficou taxado como um adolescente chato que é apaixonado pela sua governanta.

Floria Sigismondi, tem uma direção impecável, conhecida por dirigir a série O Conto da Aia, ela já tem uma bagagem com toque peculiar, e em Os Órfãos não deixa de ser um trabalho impecável, é ousada ao criar uma atmosfera em tons obscuros, sabe criar um momento de grande clímax, os planos são abertos e assustadores. A diretora usa easter eggs, e alguns elementos que só serão entendidos depois de muita pesquisa no material base. Infelizmente, Floria não teve sorte com um roteiro tão vazio, mesmo que ela tente extrair tudo de bom que há nele. Assinado por Chad e Carey W. Hayes (Invocação do MalA Casa de Cera), o roteiro é composto por uma narrativa que não chega a lugar nenhum e é repleto de labirintos sem saída.

Temos que reconhecer os erros e também os acertos, Os Órfãos tem um trunfo, que é a sua fotografia excelente, ela faz ligação direta à paleta de cores, e é de um naturalismo esplêndido, tudo é bem planejado e bonito. A direção de arte tem um trabalho impecável em ambientar o cenário estiloso vintage dos anos 90, e nas roupas elegantes da década. A trilha sonora faz um bom trabalho de suspense.

Em modo geral, Os Órfãos é descartável e esquecível, é daqueles filmes de sair no cinema com um ponto de interrogação em cima da cabeça, como ele não constrói os personagens de maneira linear e tem o final sem a menor coerência, fazendo o filme não ter sentido nenhum, chega a ser decepcionante já que o visual não faz jus ao roteiro. Para as pessoas que só assistem o filme analisando a narrativa proposta, podem ter uma grande decepção. Ele é o típico de filme para só olhar para os pontos técnicos.

Ps: Quando as luzes se acenderem, e você achar que foi um problema do cinema, infelizmente não será, o filme acabou daquele jeito mesmo.

Nath Sorrini

Produtora audiovisual e redatora. Potterhead da casa Lufa-Lufa, apaixonada por cinema e música, troca balada por uma boa maratona de séries. Se fosse uma personagem, seria a Amestista de Steven Universo.

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