‘O Homem do Norte’, mais novo filme do diretor Robert Eggers, é uma clássica história de vingança contada de forma extremamente épica. Baseado em um conto dinamarquês chamado a Lenda de Amleth, que mais tarde foi inspiração para Hamlet, escrita por William Shakespeare, e é a base da maioria das histórias modernas de vingança, inclusive O Rei Leão. O cineasta agora mostra a história de Amleth a partir de suas origens, se apoiando na ajuda de historiadores e muita pesquisa para entregar um filme fiel a época em que se passa.

É impossível não comparar O Homem do Norte com a filmografia de Eggers. Agora acompanhado de um grande estúdio de Hollywood e um orçamento maior, o diretor definitivamente subiu de nível, mantendo sua qualidade e vários aspectos considerados como suas assinaturas. Ele é dividido em capítulos, as cenas são extremamente detalhadas e possui um tom sóbrio onde as cores e os exageros são reservados às cenas mais fantasiosas e místicas. O filme também não tem pudor nenhum, cenas de violência, nudez e crueldade são recorrentes durante toda sua duração. A maior diferença entre esse longa e os outros de Eggers é que a ação substitui o horror e ele consegue se dar muito bem nos dois gêneros.

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No enredo, o jovem príncipe Amleth (Oscar Novak) é testemunha do assassinato do pai, o Rei corvo Aurvandil (Ethan Hawke), que é morto pelo próprio irmão bastardo Fjölnir (Claes Bang). Após conseguir escapar de ser assassinado também, Amleth jura vingança e vive apenas com esse sentimento em mente. Já adulto (Alexander Skarsgard), ele finalmente vai atrás de seu objetivo se disfarçando como escravo de seu tio.

Durante uma cena em particular, percebemos que Amleth se encontra anestesiado pelo mundo a sua volta, tendo como único sentimento e combustível a raiva que sente por tudo o que lhe aconteceu na infância. Mesmo com mil coisas terríveis acontecendo em sua volta, ele está alheio a tudo, com os olhos vazios e sem sentimentos. O protagonista só acorda de seu transe quando escuta o nome do tio novamente e percebe que seu destino está sendo traçado após ouvir uma profecia de uma bruxa (Björk).

Misticismo

O lado místico do filme é um dos aspectos mais interessantes que ele possui. Completamente mergulhado nas tradições e mitologias nórdicas, é lindo ver os elementos mágicos misturados aos humanos. E o modo como foram retratados é muito bonito, impossível não ficar impressionada com Amleth conhecendo sua árvore da vida. Além de ser belo, o misticismo do filme é fundamental para o enredo. Bruxas, videntes e feiticeiras estão sempre presentes no entorno do protagonista, auxiliando-o a cumprir seu destino.

A beleza do longa é de tirar o fôlego. A fotografia é sempre impecável, com natureza em todo lugar, cenas que parecem obras de arte. Mesmo com todos os momentos mais bárbaros sendo retratados em cenas, ainda existe beleza na direção e fotografia. O design de produção também capricha em todos os detalhes, assim como o figurino.

Elenco

O elenco possui uma quantidade enorme de nomes de peso, vários atores que estão inclusive repetindo a parceria com Eggers. Alexander Skarsgard interpreta o protagonista lobo-urso Amleth de uma forma incrível. Ele não é de falar muito além de seu mantra e o ator é ótimo em traduzir os sentimentos do protagonista somente com os olhos ou na postura de seu corpo. Anya Taylor-Joy interpreta a jovem escrava eslava Olga, que se alia a Amleth em sua saga de vingança e a atriz se destaca em cena desde o momento em que aparece, apenas no fundo no meio de uma confusão. É impossível não olhar para ela. Combina perfeitamente com o clima do filme e parece extremamente etérea em certos momentos.

Nicole Kidman como a rainha Gudrún, mãe de Amleth e que é obrigada a se casar com Fjölnir depois que ele mata seu primeiro marido, merece um destaque a parte por sua participação no filme. A atriz está impecável e digna de muitos prêmios. O modo como a personagem dela se esconde nas lembranças de infância de Amleth é genial e serve como uma grande lição. O filho, tão focado em sua vingança, jamais viu além do que sua memória lhe permitia e colocou os pais em um pedestal e, já adulto, percebendo a verdade, não sabe como reagir por ter moldado todo o seu destino vinculado a eles.

Vingança

Em sua saga para conseguir vingança, Amleth fala a mesma frase repetida vezes apenas para si mesmo, “Eu vou vingá-lo, pai. Eu vou salvá-la, mãe. Eu vou matá-lo, Fjölnr”. Além do mantra alimentar seu sentimento cada vez que é repetido, ele também reafirma o destino que o personagem impõe para si mesmo e o dever que ele sente de restaurar a honra da família. Então, mais do que uma história sobre vingança, essa é uma história sobre destino e como podemos muda-lo, mas escolhemos não fazer isso por dever.

Sendo um longa que fala o tempo todo sobre destino, deixando claro o do protagonista, ele acaba sendo previsível. Mas é impossível não torcer o tempo todo que ele escolha ignorar o que lhe foi imposto e que vá viver a vida dele. Ignore totalmente o dever, principalmente depois que certas revelações são feitas a respeito de seu passado e de seu futuro. Em uma cena, o personagem Heimir (Willem Dafoe) diz para Amleth: “O seu destino está selado e você não pode mudá-lo”. Mas o final do filme só comprova que nós escolhemos nosso destino e nos resta aceita-lo.

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Trailer – O Homem do Norte

Ficha técnica – O Homem do Norte

Título original: The Northman
Direção: Robert Eggers
Roteiro: Robert Eggers, Sjón
Elenco: Anya Taylor-Joy, Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Claes Bang, Ethan Hawke, Willem Dafoe, Björk
Data de estreia: 12 de maio de 2022
Onde assistir: somente nos cinemas
Duração: 136 minutos
País: Estados Unidos
Gênero: drama, fantasia, aventura, suspense
Ano: 2022
Classificação: 18 anos