Jogador Nº1 | Crítica do Filme

Há tempos o cinema tenta sem sucesso adaptar um jogo de video game ou fliperama para as telonas. Embora não sejam literalmente adaptações, a animação Detona Ralph (Wreck-It Ralph – 2013) conseguiu levar personagens de jogos eletrônicos para o cinema com dignidade e agora Steven Spielberg acerta em cheio com Jogador Nº1 que, apesar de também não ser a adaptação de um game de verdade, mistura realidade virtual, com live action, nos transportando imediatamente para o universo dos jogos eletrônicos.

Baseado no best seller homônimo de Ernest Cline, o principal acerto de Jogador Nº1 é a escolha de Steven Spielberg como diretor do filme. Como a obra é repleta (mas bem repleta mesmo) de referências à cultura pop dos anos 70, 80 e 90, nada melhor do que convidar um dos responsáveis diretos pela criação dessa cultura para dar vida a produção. E o mais incrível disso tudo é ver o frescor e a criatividade do Spielberg dos anos 80 de volta e criando um blockbuster tão bom quanto ele criou no seu auge.

Jogador Nº1 se passa em 2045, num mundo à beira do caos e do colapso. A população vive de maneira horrível, os recursos naturais estão escassos, o mercado de trabalho cada vez menor e a miséria cada vez maior. A maneira de fugir desse lugar deprimente é se conectar ao Oasis, o universo de realidade virtual criado pelo genial e excêntrico James Halliday (Mark Rylance). O lugar faz jus ao nome e é visualmente espetacular, onde você escolhe um avatar e anda pelas ruas, cidades, países podendo encontrar personagens famosos e se aventurar com eles onde bem entender. Quando o criador deste lugar fantástico morre, ele deixa sua fortuna para a primeira pessoa que encontrar um easter egg escondido por ele mesmo em algum lugar do Oasis, dando origem a uma competição mundial. O jovem Wade Watts (Tye Sheridan) decide participar da competição e precisa disputar com outros competidores e com uma empresa rival para vencer a competição e, consequentemente, herdar toda a fortuna e a principal criação Halliday.

O roteiro, assinado pelo próprio Cline e Zak Penn, parte de uma premissa básica, porém muito sólida. Há alguns defeitos como narrações em off completamente desnecessárias que descrevem algumas ações que veremos na seqüência, do mesmo modo que o diretor José Padilha faz com suas obras. Mas a história em si é muito consistente, rápida, empolgante e que nas mãos de Spielberg se torna extremamente prazerosa.

O visual de Jogador Nº 1 é um espetáculo a parte. As transposições do mundo real para a Oasis são perfeitas e colocam muitas vezes o espectador dentro desses dois contextos. Chega a dar a impressão de que estamos dentro do universo do filme e que temos acesso a realidade virtual criada por Halliday. Aqui é onde Spielberg aplica tudo aquilo que ele sabe sobre fantasia e nos brinda com cenas deslumbrantes e inesquecíveis.

Claro que não podemos deixar de citar as inúmeras referências e easter eggs presentes em Jogador Nº1 que vão desde games, passando por animações, HQs, games, filmes, séries e animes. São tantos personagens, tantos itens de ícones da cultura pop que se você parar para prestar atenção em tudo, acabará perdendo grande parte da história do filme. Mas é impossível não destacar a homenagem ao clássico O Iluminado, que é onde uma das pistas de Halliday está e um dos momentos mais memoráveis do filme. Mas a grande homenagem é mesmo a Steven Spielberg. A nova produção da Warner é a prova de que o diretor ainda tem muito a oferecer a este universo que ele ajudou a construir.

Fabio Martins

Santista de nascimento, flamenguista de coração e paulistano por opção. Fã de cinema, música, HQ, games e cultura pop.

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