Camelot 3000: atual há mais de três décadas

Desde que comecei a ler quadrinhos, uma aventura que já dura há uns 20 anos, sempre tive curiosidade com uma minissérie específica, cujas propagandas eu via nas últimas páginas de gibis antigos: Camelot 3000. A premissa de uma história com o Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda ambientada no futuro me atraía bastante, até porque sempre achei o mito do monarca bretão e os diversos fatos históricos em volta dele, fontes quase inesgotáveis de boas histórias. E, graças à recente reedição encadernada lançada pela Panini, finalmente matei a vontade. Com 324 páginas e capa dura, o livro é impecável em termos gráficos e ainda traz um prefácio escrito pelos autores Mike W. Barr e Brian Bolland.

A trama toda é muito simples, mas bem amarrada, como acontecia com outras HQs do início dos anos 1980, afinal, naquela época, fazer quadrinho não era um negócio multimídia e multimilionário como hoje. O público também era outro. Os leitores queriam mais era “viajar” em páginas que não se levavam tão a sério e não existia aquela preocupação de contextualizar e espelhar a realidade em poucos ou muitos detalhes, como se faz atualmente.

E nessa simplicidade toda, temos o Rei Arthur Pendragon despertando na Inglaterra em pleno ano 3000 para defender sua terra – e a nossa Terra – contra uma invasão de alienígenas verdes. E os clichês não param por aí. Quem acha a tumba do Rei, que simplesmente desperta sem nenhuma explicação, é Thomas, um jovem em fuga que passa a acompanhar o monarca bretão e se tornar um cavaleiro honorário, no melhor estilo “entrei de gaiato na maior aventura da minha vida”.

Por falar neles, apenas Arthur e o mago Merlin – que é encontrado em Stonehenge – mantêm seus corpos originais. Os outros cavaleiros, como Lancelot, Gallahad e até a Rainha Guinnevere, reencarnaram em habitantes da era em questão e vão sendo despertados pouco a pouco em diversas partes do mundo. Como uma boa história de ficção científica, eles têm sua vida atual misturada com as memórias da Idade Média e não hesitam em entrar na luta quando seu Rei os convoca.

Contudo, quanto mais a história se aprofunda, mais densa ela vai ficando. Os elementos e personagens das novelas de cavalaria originais estão lá cumprindo seus papéis, mas tudo se desenvolve com belas viradas de roteiro e algumas surpresas, como a trama de Tristão e Isolda. Ao contrário de seus companheiros, o cavaleiro reencarnou no corpo de uma mulher e não aceitou isso nada bem. Grande parte por achar seu corpo fraco e inadequado para a luta e, claro, por não ser capaz se ter relações com sua amada do jeito que está acostumado. Então, de um gibizão antigo com uma história maluca, temos um conto sobre transexualidade bem escrito e que narra com perfeição um tema abordado e polêmico até – e principalmente – os dias de hoje: a certeza de ter nascido no corpo errado.

As partes mais feias das histórias de Camelot também foram atualizadas para o ano 3000. Portanto, espere inimigos conhecidos e traições, mas não pense que exatamente tudo vai acontecer da forma que você já viu no cinema ou em algum livro. Os autores conseguem manter surpresas até as últimas páginas e o que posso adiantar é que temos um clímax empolgante e um final bastante digno para uma obra que tinha tudo para ser só mais uma história bagunçada, mas que se conclui com elegância e deixa aquele sorriso de satisfação depois de terminada. Por que demorei tanto para ler isso?

Ficha Técnica:

Título: Camelot 3000
Editora: Panini
Autores: Mike W. Barr (roteiro), Brian Bolland (arte) e Tatjana Wood (cores). Artistas convidados: Bruce D. Patterson, Terry Austin, Dick Giordano
Capa: dura
Lombada: quadrada
Papel: couché
Páginas: 324
Formato: 17 x 26 cm
Lançamento: abril /2018

Carlos Bazela

Jornalista e leitor compulsivo, gosta de cerveja, café e chá preto não necessariamente nessa ordem. Fã de boas histórias, principalmente daquelas contadas por meio de desenhos e balões.

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