Infiltrado na Klan | Crítica do filme

“Ele soa como um de nós”, disse recentemente o ex-líder da Klu Klux Klan sobre o candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto e que, provavelmente, será o próximo presidente do Brasil. A frase não é nenhum exagero. Basta ler as declarações do presidenciável para perceber que as aberrações ditas por dele poderiam muito bem terem saído da boca de David Duke. Duvida? Pois assista o quanto antes ao novo filme de Spike Lee, “Infiltrado na Klan”, que será exibido a partir de quinta (18) na 42.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e entra em cartaz nos cinemas brasileiros em 22 de novembro.

Produzido por Jordan Peele (diretor e roteirista do excelente Corra!) e baseado em uma história verídica, Infiltrado na Klan segue os passos de Ron Stallworth (John David Washington), o primeiro policial negro de Colorado Springs que se infiltra na organização extremista para desmascarar seu líder, David Duke (Topher Grace). Por motivos óbvios, ele precisa da ajuda de Flip Zimmerman (Adam Driver), um policial branco que começa a frequentar as reuniões da KKK enquanto Stalworth permanece no telefone e na vigilância.

Infiltrado na Klan, assim como praticamente toda a filmografia de Lee, cutuca com afinco e maestria os conflitos raciais. Aqui, o diretor vai um pouco mais além e consegue ousar um pouco mais ao tratar de uma questão verídica dos anos 70 e fazer um paralelo deste caso com o nosso presente. Somado ao humor sarcástico de Peel e, principalmente, ao que se vê tanto na política norte-americana quanto na brasileira, o resultado é magistral.

Com roteiro e direção impecáveis, Infiltrado na Klan conta com as ótimas atuações de Driver e Washington (filho de Denzel) e cenas memoráveis. São tantos momentos gloriosos que fica difícil apontar qual se destaca mais: A reunião com o líder dos Panteras Negras; a conversa com a militante Patrice Dumas (Laura Harrier) sobre os melhores filmes, atores e atrizes da Blaxpotation; os diálogos magistrais com os membros inferiores da KKK e a fatídica “sessão de cinema” são alguns dos ápices do filme.

Mas é claro que o paralelo com o triste momento político e social que vivemos hoje, com o crescimento de grupos radicais extremistas, políticos que desprezam minorias é o grande acerto de Infiltrado na Klan. O único defeito desse grande trabalho de Spike Lee é a sua data de lançamento, principalmente no Brasil, quando o presidente já terá sido eleito quando ele chegar aos cinemas. Fica aquele sentimento de que se as pessoas tivessem assistido ao filme antes do primeiro turno das eleições, talvez nosso destino tivesse sido bem melhor.

Fabio Martins

Santista de nascimento, flamenguista de coração e paulistano por opção. Fã de cinema, música, HQ, games e cultura pop.

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One thought on “Infiltrado na Klan | Crítica do filme

  1. Spike Lee ganha mostra no CCBB | Dimensão Geek 29/10/18 at 12:07

    […] A Mostra acontece no mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) e oferece ao público um panorama da obra do mais atuante cineasta afro-americano, que conquistou este ano o Grande Prêmio do Júri e Menção Especial do Prêmio Júri Ecumênico no Festival de Cannes, e o Prêmio do Público no Festival de Locarno, com Infiltrado na Klan. […]

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