Star Wars | Como Lucas conquistou o universo

No mundo corporativo, decisões são tomadas mediante projeções de lucro. Assim, ignorando o bom senso, relações afetivas e a história da humanidade, muitas coisas se transformam em pilhas de moedas. Séries cinematográficas ganham reboots, universos de quadrinhos recomeçam do zero etc. Mas o que mais incomoda é a troca de nomes em nome do dinheiro.

Caco, o Sapo? Não, Kermit. Fada Sininho? Não, Tinker Bell. Guerra nas Estrelas? Não, Star Wars. E porque? Para economizar na hora de fazer uma fôrma na China? Para unificar e valorizar uma “marca”?

Mexer com lembranças, principalmente aquelas relacionadas a nossa infância e adolescência, é algo delicado. Ninguém quer descobrir que um ídolo do futebol é um idiota homofóbico ou que um dos autores infantis mais querido é um racista cretino. Por isso, ler biografias pode ser uma experiência dolorosa.

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Como Star Wars Conquistou o Universo: o Passado, o Presente e o Futuro da Franquia Multibilionaria”, felizmente, não entra nessa lista, parecendo mais o trabalho de um fã desesperado para justificar até mesmo as decisões mais bizarras de seu ídolo. Publicado originalmente em 2014, com sucesso de crítica, o livro ganhou uma atualização para o lançamento de “Star Wars: O Despertar da Força”. Vertido para o português, teve suas 616 páginas lançadas no final de 2015 pela editora Aleph.

O autor, o jornalista Chris Taylor, começa o livro com a difícil tarefa de encontrar um estadunidense que desconheça a existência de Star Wars. Como última tentativa desesperada, acaba em uma remota tribo navajo que fará a primeira exibição de Star Wars dublado em sua língua nativa. Lá acaba encontrando um ancião (um dos indígenas que serviram ao exército dos EUA durante a segunda guerra utilizando o navajo como código) que vive longe de qualquer tecnologia. E até mesmo esse velho índio tinha uma tênua lembrança de um caça estelar x-wing.

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O livro, claro, não é para qualquer público. É preciso um interesse legítimo pelo cinema como negócio ou pela saga Star Wars para apreciar a narrativa repleta de dados e anedotas vindas de uma galáxia muito, muito distante.

Além de curiosidades diversas, o livro traz informações substanciais sobre a avalanche Star Wars, um universo criado por um cineasta que, reconhecidamente, é um roteirista de última categoria.

O surgimento da 501ª Legião de stormtroopers, o “Punho de Vader”, onde os participantes tem que fabricar o próprio uniforme; professores “jedis” que ensinam a manusear um sabre de luz; a primeira turma que acampou diante do cinema esperando a estreia dos filmes; os dramas e as batalhas legais entre Lucas e os estúdios; a maneira como o cineasta se tornou (ou passou a se chamar) “O Criador”; a relação dos filmes com o desenvolvimento da indústria de efeitos especiais; a dura escolha de um novo presidente para substituí-lo; a venda do “império” para a Disney; o grupo de construtores de R2D2, o envolvimento de cineastas como Coppola e Kasdan no desenvolvimento das histórias etc.

Mas, talvez, o melhor de toda a narrativa é a maneira profissional como o autor trata o assunto, respeitando temas delicados, como o divórcio de Lucas – que é visto, principalmente, pelo ângulo financeiro.

O amor de Taylor pelo tema é, por vezes, um tanto exagerado, como quando tenta validar as escolhas de Lucas para os episódios I, II e III – Jar Jar Binks incluído. Eventualmente, também abre espaço para a crítica, mas se demora mais acompanhando o raciocínio de um fã que abraça a “primeira trilogia”.

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Quando Lucas oferece a presidência da Lucasfilm para a produtora amiga Kathleen Kennedy, um certo tom de melancolia toma conta da narrativa. O desenvolvimento de um argumento para o episódio VII, O Despertar da Força, que não é aproveitado, é uma nota particularmente triste, ainda que celebrada por fãs mais pragmáticos. Os bilhões que ganhou da Disney, no entanto, podem trazer alguma alegria para sua aposentadoria.

Essa nova edição conta com algumas informações relacionadas ao episódio IV, mas termina antes da estreia do filme. Esse fato não chega a incomodar, uma vez que críticas e números do filme estão disponíveis na internet.

Fabio Martins

Santista de nascimento, flamenguista de coração e paulistano por opção. Fã de cinema, música, HQ, games e cultura pop.

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