Legion | Análise da temporada

Devido à quase dominação mundial da Marvel em sua parceria com a Disney nos cinemas, a FOX – detentora dos diretos das histórias do grupo de mutantes X-Men (criados por Stan Lee e Jack Kirby, em 1963) nas telas – viu-se obrigada a inovar. Ao invés de construir um universo interligado entre os inúmeros personagens do panteão da editora, apostou no oposto: focar em personagens sem se preocupar a que arco dos quadrinhos ele pertence. Mas essa opção não surgiu por livre e espontânea vontade. O ator Ryan Reynolds convenceu o estúdio a financiar seu projeto Deadpool (2016) a fórceps. E o resultado foi tão animador (e lucrativo), que a FOX passou a investir em projetos mais originais, como é, por exemplo, o caso de Logan (2017), aventura solo do mutante Wolverine que surpreendeu muitos por seu formato mais adulto.

Na TV, essa filosofia foi implementada em Legion, nova série do canal do estúdio, o FX. A trama é baseada em um personagem que apareceu nas aventuras dos Novos Mutantes quando a dupla Chris Claremont (roteirista da era de ouro do X-Men, no final dos anos 1970) e Bill Sienkiewicz (desenhista de traços bem peculiares autor de algumas das mais influentes HQs da década de 1980, como Electra: Assassina) cuidava desse título formado por mutantes mais jovens. Um tipo de universo mais teen dos X-Men.

Mas fora o personagem principal, o atormentado David Haller, a série de TV não traz quase nada desse universo de Claremont e Sienkiewicz além do clima psicodélico do traço de Sienkiewicz e da inesperada mudança no estilo excessivamente descritivo de Claremont. Quem comanda o show em Legion é Noah Hawley, autor de outra grande adaptação para a telinha: a minissérie Fargo (2014).

Legion não se parece com nada que já foi produzido em audiovisual no subgênero dos super-heróis. No liquidificador de Noah Hawley entram ingredientes como David Lynch, Stanley Kubrick, Wes Anderson, cinema mudo, Pink Floyd… Uma verdadeira salada de cogumelos alucinógenos. Em oito episódios, pouco se explica sobre o que diabos está acontecendo. Apenas nos dois últimos começamos a ter alguma ideia.

Sem entregar qualquer spoiler (o maior dos pecados da atualidade), David Haller é um jovem com graves problemas mentais internado em um manicômio. Lá, ele conhece e se apaixona por Syd Barret (sacou a referência pinkfloydiana?), uma garota que tem repulsa pelo contato físico. Porém, algo estranho acontece e David é capturado por uma agência do governo que caça mutantes, pois, ao que parece, ele não é maluco, mas sim um poderoso mutante que não tem noção da magnitude de seus poderes psíquicos. No entanto, não é apenas essa agência que está atrás dele, mas também um grupo liderado pela Dra. Melanie Bird, que pretende treina-lo para controlar seus poderes para o bem da humanidade. Só que a tarefa não será nada fácil, porque na sua mente torturada vive Lenny, uma lembrança nada agradável de sua vida antes da internação.

Com algumas ótimas interpretações – principalmente de Aubrey Plaza (Lenny). Lembra dela em Scott Pilgrim Contra o Mundo? –, trilha sonora matadora e caminhos pouco convencionais (pelo menos nesse universo dos super-heróis), Legion tem tudo para deixar sua marca. A série pode não agradar aos fãs dos filmes de personagens da Marvel, como Os Vingadores, mas vai fazer muita gente que não ligava para super-heróis passar a prestar mais atenção a esse filão. Isso porque seus personagens estão muito mais para párias do que heróis, além do fato de não exigir do expectador qualquer tipo de conhecimento prévio das aventuras dos X-Men. O grupo, aliás, sequer é citado na série.

Fabio Martins

Santista de nascimento, flamenguista de coração e paulistano por opção. Fã de cinema, música, HQ, games e cultura pop.

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