Star Wars: Os Últimos Jedi | Crítica do filme

Star Wars: Os Últimos Jedi é tudo o que seus fãs querem ver. Há todo tipo de auto-referência (principalmente em relação a O Império Contra-Ataca), retorno de personagens queridos, bichinhos fofinhos, lutas com sabres de luz no melhor estilo samurai, batalhas espaciais… Está tudo lá. Sucesso garantido. Mas este episódio VIII traz algo que seu antecessor, Star Wars: O Despertar da Força, nem sequer tentou fazer: uma corajosa – e necessária – desconstrução da jornada do herói.

“Luke Skywalker é apenas um mito”, diz o carrancudo e ressentido mestre Jedi à jovem Rey (Daisy Ridley), que vê no exilado guerreiro a última esperança dos rebeldes contra o novo Império. Engraçado essa escolha de palavras. Ainda mais hoje em dia, onde o termo “mito” é utilizado de forma tão banal e deturpada. Principalmente aqui no Brasil, em uma galáxia tão, mas tão distante daquela em que se passa a saga.

O mito não deixa de ser uma forma de marketing político. Um ser que, de um lado, inspira a revolução, e de outro, a ordem. Em Guerra nas Estrelas, tudo sempre foi muito maniqueísta. A luz contra a escuridão. Mas em Os Últimos Jedi há pequenos indicativos que os tempos são outros. Um lugar onde mocinhos e vilões convivem em uma zona cinzenta. Aqui, tanto Luke quanto seu antigo pupilo, Kylo Ren, travam um luta interna contra seus sentimentos conflitantes, onde luz e escuridão fazem parte de uma mesma força. Algo que Rey saca em poucos minutos de meditação, diga-se. As mulheres sempre são mais perspicazes.

Aliás, essa noção de que nada é preto no branco funciona como um mantra no filme, sendo discutida nos três arcos da história. No triângulo entre Luke, Rey e Kylo; na missão de Finn (John Boyega) e Rose (Kelly Marie Tran) – onde DJ (Benicio Del Toro) mostra a Finn que a guerra é muito mais que mera ideologia e gera lucro para muita gente – e entre Poe (Oscar Isaac), Leia (Carrie Fisher) e a Vice-Almirante Holdo (Laura Dern) no front dos Rebeldes.

No final, vemos como o “novo” é apenas uma versão moderna do “velho”. Uma visão cínica do universo nunca vista antes em nenhuma aventura Star Wars. Por um lado isso é bem interessante, já que mitos são desnudados, por outro, nem tanto, pois a saga pouco inova em seu formato tradicional. Semelhanças com a nova onda conservadora travestida de solução moderna que assola esse nosso pequeno planeta não são mera coincidência.

Fabio Martins

Santista de nascimento, flamenguista de coração e paulistano por opção. Fã de cinema, música, HQ, games e cultura pop.

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