Red Skin é HQ com mensagem séria disfarçada de escracho

Quando você olha pela primeira vez o enorme encadernado de Red Skin: Bem-Vinda à América, na qual a protagonista aparece na capa nua, de costas e segurando uma foice e um martelo, é possível perceber que a história vai ter sexo e comunismo. E tem mesmo. Ambos. Mas, a história vai muito além de uma HQ erótica ou de uma heroína hipersexualizada só para agradar leitores homens.

Na trama, que se passa em 1977, Vera Yelnikov é uma agente de elite soviética. Fruto de um programa especial de treinamento, ela usa sua inteligência acima da média e dotes físicos principalmente em missões de resgate. Até que seus superiores lhe enviam em um trabalho disfarçado como espiã aos EUA. A contragosto dela, diga-se.

O objetivo? Se tornar uma super-heroína sob o pseudônimo de Red Skin para criar propaganda positiva aos interesses comunistas. E quais são eles? Desviar os EUA do caminho do fanatismo religioso cristão que pode levar a uma guerra. Ainda mais agora, quando um vigilante extremamente violento conhecido como O Carpinteiro está caçando pessoas que trabalham na indústria pornográfica com a desculpa de “limpar a América”.

Ao mesmo tempo, uma candidata extremista chamada Jackie Core concorre ao Governo da Califórnia com grandes chances de eleição por cont de seu apoio declarado ao fanático personagem. É no meio desse clima que Vera, ou melhor, Alabama Jane, chega à cidade e começa a tocar sua carreira de combatente do crime, frustrando roubos à banco e tudo, enquanto cria seu álibi civil de assistente do diretor de filmes pornôs Lew Garner, que está para lançar o filme tido como sua grande obra-prima do gênero.

Escracho de propósito

O fato de Vera ter formas acentuadas, ser retratada sempre com roupas sensuais – isso quando aparece vestida e falar com desenvoltura sobre sexo podem dar a entender que tudo não passa de uma história erótica e escrachada de super-heróis. Contudo, pensar assim é menosprezar a mensagem importante que a HQ quer passar.

A protagonista de Red Skin não vê problemas em falar sobre sua bissexualidade, parte em resgate de um casal de lésbicas ativistas que esperam seu primeiro bebê do maléfico Carpinteiro – e seu séquito de seguidores fiéis – e tira sarro de piadas machistas com desenvoltura. Com isso, Vera vai aos poucos deixando sua missão de espalhar a propaganda comunista de lado para se tornar defensora da liberdade contra a intolerância.

Aliás, a heroína coloca em cheque o conceito de liberdade, uma vez que seu estilo de vida parece não ser problema no demonizado sistema comunista. Enquanto os EUA do final dos anos 1970, que se gaba de seu capitalismo no auge da Guerra Fria, afunda cada vez mais no fanatismo cristão.

É esse paradoxo que injeta inteligência no gibi e faz de Red Skin uma leitura divertida na qual mesmo uma heroína sexualizada com todos os estereótipos pode agradar também às leitoras. Principalmente pelo jeito livre e empoderado como Vera se reconhece.

Sobre o volume publicado no Brasil, vale adiantar que o final fica em aberto, mas a continuação já saiu lá fora em 2017, o que nos deixa na torcida para seu lançamento aqui.

Ficha Técnica:
Título: Red Skin – Bem-vinda à América
Editora: Mythos
Autores: Xavier Dorison (roteiro) e Terry Dodson (desenhos)
Lombada: quadrada
Páginas: 120
Formato: 31,4 x 23,8 cm,
Lançamento: novembro/2017

Carlos Bazela

Jornalista e leitor compulsivo, gosta de cerveja, café e chá preto não necessariamente nessa ordem. Fã de boas histórias, principalmente daquelas contadas por meio de desenhos e balões.

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