J.C. Chandor é um dos diretores mais interessantes dessa nova geração. Uma de suas principais virtudes é a maneira que procura explicar algum tipo de colapso (seja ele causado pela natureza ou pelo homem) utilizando um personagem. Foi assim com “Margin Call – O Dia Antes do Fim”, onde ele explica a crise financeira que abalou os EUA em 2008; “Até o Fim”, com apenas Robert Redford no elenco tentando sobreviver em seu barco diante uma maré enfurecida e agora ele descontrói o sonho americano com “O Ano Mais Violento”.
Em seu novo filme, Chandor conta a história de Abel Morales (Oscar Isaac), um empresário imigrante que tenta vencer nos Estados Unidos trabalhando honestamente . Dono de uma empresa de transporte de combustível herdade do sogro mafioso, seus caminhões estão sofrendo constantes assaltos e o sindicato dos motoristas o pressiona para deixar que esses profissionais recebam armas para se defenderem.
Para piorar as coisas, estamos na cidade de Nova Iorque em 1981, o Ano Mais Violento que dá título ao filme e ele ainda enfrenta um promotor público que está investigando seus negócios e ter que lidar com a mulher, filha do mafioso, que só pensa em prosperar e está pouco se lixando para a ideologia do marido.
Chandor coloca o sonho americano no chão, revelando que nada é tão simples como parece e como prometem. Não basta o cara ser honesto e trabalhar dignamente para prosperar no país. Ele precisa lidar com situações bem adversas e acaba percebendo que essa oferece muito pouco para aquilo que lhe é cobrado.
A fotografia de O Ano Mais Violento é outro destaque do filme. O branco da neve, com o tom cinza da cidade e o preto do petróleo, criam uma atmosfera melancólica perfeita que traduz bem os sentimentos e a tristeza vivida por Abel diante desse impasse.
Assim como seus dois trabalhos anteriores, Chandor explora o silêncio do protagonista para transmitir o que ele está passando e sentido naquele momento, fazendo com que ele, às vezes, se torne um mero expectador daquilo que acontece a sua volta.
O Ano Mais Violento não é um filme de máfia tradicional e também não é frenético como o título pode dar a entender. É um longa denso e pesado, com cenas de ação pontuadas e ótimas atuações. Uma produção que, embora não seja voltada ao grande público, ela não pode ser ignorada. Merece ser vista e apreciada. Vale a pena.
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