Asterios Polyp é o nome de uma graphic novel escrita pelo artista gráfico e quadrinista David Mazzucchelli em 2009 e lançada no Brasil em 2011 pela Companhia das Letras, que descreve a obra como “um estudo sobre as possibilidades narrativas dos quadrinhos, um livro de design, estética, filosofia e, por que não, humor“. Entre as principais premiações recebidas pela obra está o prêmio Eisner de Melhor Álbum Gráfico de 2010, além de outros três Harvey Awards.
A trama
Para o arquiteto Asterios Polyp, “qualquer coisa que não é funcional é meramente decorativa”. Egocêntrico e intragável, enxerga apenas a dualidade do mundo. Em uma primeira leitura, essa informação ajuda a construir o mito do heróis em busca de redenção.
Abandonado pela mulher, desiludido, ele embarca em uma road trip em busca de um sentido para sua vida, para superar o dissabor que experimenta ao ver um mundo onde a forma nem sempre acompanha a funcionalidade, como apontou uma crítica no New York Times.
Essa visão é reforçada em um artigo da wikipedia, que defende que a trama, estrutura e design do livro exploram a ideia de dualidade em falsas dicotomias como razão x emoção, destino x livre arbítrio etc. Ao mesmo tempo, o livro levantaria questões sobre “como uma pessoa se tornaria o que é” e realça a ascendência grega de Asterios, implicando em uma co-relação da história com A Odisseia.
Para o leitor, uma das viagem mais interessante é a que o personagem faz ao passado via flashbacks. Ali aprendemos a natureza de seu relacionamento com a ex-mulher, Hana, seu entendimento estético do mundo e uma série de embates com o irmão gêmeo morto ainda no útero.
O quadrinista Scott McCloud, no entanto, sugere que apenas uma segunda leitura permitiria uma maior compreensão da obra de Mazzucchelli. Detendo-se principalmente no aspecto gráfico do trabalho, McCloud fala do cuidado com a impressão e às cores primárias desse processo (cyan, magenta e amarelo), que na narrativa funcionam como separaçãoes de estado de espírito, passagem de tempo etc.
“Felizmente, para os tolos como eu, Mazzucchelli é um humanista em primeiro lugar. Acho que ele ama todos os tolos que povoam sua história e não tem interesse em julgamentos divinos. Ele está apenas narrando a dança do brilho da futilidade que todos nós participamos, com nossos próprios passos e nossa própria melodia, enquanto tentamos fazer sentido do insondável”, conclui McCloud.
Talvez não seja um trabalho para fãs de quadrinhos de heróis, mais familiarizados com o trabalho de Mazzuchelli em parceria com Frank Miller, como em “Batman: Ano Um” (1987) e “Demolidor: A Queda de Murdock” (1986). Mas certamente é recomendado para qualquer um interessado em boa literatura.